Em um mundo pós-pandemia e com o crescente número de plataformas de streaming, está cada vez mais difícil para um filme atingir resultados satisfatórios nas bilheterias de cinema, tendo em vista a quantidade gritante de fracassos. Esse não é o caso de "Barbie", que se tornou um fenômeno cultural e midiático antes mesmo de cravar a marca de um bilhão de dólares, e não é sem motivo.
Desde o início do longa, que faz referência ao clássico "2001: uma odisseia no espaço", com a narração de Helen Mirren, o espectador é tragado pela curiosidade e, quando surge a vista panorâmica da "Barbielândia", ele já está completamente absorto na loucura cor-de-rosa que a diretora e roteirista Greta Gerwig monta com muita extravagância, e esse é o charme! Tudo é dois tons acima: os cenários, as personalidades e as cores – principalmente –, com um ar sintético, plastificado. Esse, aliás, era o objetivo da diretora, e o produto final não é, de maneira alguma, ruim. Eu diria que só enfatiza a atmosfera de sonho, de nostalgia para aqueles que brincaram com a boneca na infância.
Também se deve elogiar a escrita de Gerwig, que criou um roteiro ágil, inteligente e surpreendente, mas sem ser desconfortável - ignoramos aqui aqueles que não gostam de "filme de menina" -, já que remete àquelas histórias gostosas de Sessão da Tarde. Isso, porém, não torna a experiência rasa ou descartável.
Acredito que o pré-conceito de que este é um filme qualquer de boneca e
roupas bonitas só contribui para que o choque do público seja ainda maior, ao se ver bombardeado por críticas a respeito da feminilidade, dos papéis que a mulher pode desempenhar em uma sociedade e também sobre maternidade, masculinidade frágil e ansiedade.
Além disso, "Barbie" é realmente engraçado, com diálogos deliciosos e interações excepcionais entre os atores. Margot Robbie é um espetáculo, como sempre, conseguindo transmitir humor e emoção de modo muito equilibrado. Ela, como um sol, eleva os atores que giram ao seu redor. A dobradinha que a atriz e produtora faz com Ryan Gosling, o destaque da produção, é impressionante de tão entrosada. America Ferrera e Ariana Greenblatt também têm seu espaço interpretando uma mãe e filha que buscam reconciliação.
O veterano Will Ferrell brilha com uma participação pequena, apesar de marcante, e um destaque subestimado da obra é a também engraçadíssima Kate Mckinnon, no papel de Barbie Estranha. A comediante segue fazendo uma interpretação automática, com personagens "pitorescos" e fora da curva, mas ela os faz tão bem que “deixamos passar” e nos divertimos sem culpa.
Em suma, "Barbie" é um clássico pop instantâneo e que, sem ser revolucionário, inova em uma representação empática, diversa e bem-humorada da mulher... e das bonecas. Afinal, rosa é a cor do ano!
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